Podia chegar aqui, debitar meia dúzia de termos técnicos e uns quantos adjectivos que eu mesmo tenho dificuldade em perceber, e a coisa estava feita. Duvido que vos tocasse a alma, ou vos deixasse com alguma vontade de ver o filme em questão, mas pelo menos, eu passava aquela imagem de intelectual e de entendido do cinema.
Mas como hoje, e particularmente hoje, estou sem disposição para isso, vou falar-vos do filme à minha maneira, de como ele me tocou, da minha história em relação ao filme.
Estávamos em 2006, ainda não tinha 20 anos, quando o vi pela primeira vez. Todo aquele rotulo de Palma de Ouro em Cannes, fazia antever um filmaço, mas para mim, àquela data, não foi. Terminei de ver o filme e tive a sensação de não gostar dele. Não era filme para ganhar Cannes, como se eu soubesse que filme deve ganhar Cannes.
Fiquei com ele a mexer-me na cabeça durante dias, e era com cada patada, que volta e meia tinha de me sentar e pensar no assunto. Até que, resolvi voltar a vê-lo. Devíamos estar em 2008, e eu com toda aquela sede de cinema, e como estava prestes a entrar no curso, tinha de dar, mais um vez, todo aquele ar intelectual aos futuros colegas de turma. Nada melhor que dominar, de trás para a frente, os vencedores de Cannes.
Dessa segunda vez, percebi de imediato que afinal, o filme tinha mais qualquer coisa. Vê-lo uma terceira vez foi inevitável, até porque no meio de novos amigos de curso, quem não gosta de ser o “gajo” que mostra bons filmes?
Penso que foi à terceira ou quarta vez, que o vi pela última vez. Estamos provavelmente em 2009, e deste então até ao final do meu curso, em 2011, não houve um santo dia (sim, que dias de estudante são santos) em que não me lembrasse do filme.
Os dias em que não me lembro de me ter lembrado do filme, são dias que também não me recordo.
A forma poética como nos é contado um massacre do ponto de vista de quem o pratica, o lugar onde nos coloca, aquela pessoa que vê tudo, sabe tudo, mas nada faz. E no final, na fúria e na raiva do massacre, quem nada fez, também é alvo. Enfim, o filme diz tanta coisa, mostra tanto de cinema – é a fotografia e os travellings em sequência que entram na escola e saem para um bonito dia de sol e vice-versa. É toda essa técnica com a qual não vos quero maçar, mas essencialmente a forma como a história é contada, e como o terror pode ser contado de forma são sensível e tranquila.
Hoje em dia tenho em casa três DVDs do filme, não vá emprestar algum, ou não o ter logo à mão para mostrar a alguém. É assim o cinema.